A Menina Invisรญvel (Ou o que sobra de uma ausรชncia)
Ela se chamava Helena — mas isso pouco importa, porque o nome nรฃo muda o destino de quem jรก nasceu sem lugar no mundo. Nรฃo era mรกrtir, nem santa. Apenas uma menina com olhos opacos. E isso, veja bem, nรฃo รฉ figura de linguagem. Os olhos dela realmente nรฃo refletiam luz. Tinham a escuridรฃo de quem desistiu antes mesmo de entender o que era viver. Desde pequena, Helena flutuava pela casa como quem nรฃo quer perturbar o chรฃo. Era filha, sim, mas nรฃo a preferida. Irmรฃ, talvez, mas nunca a lembrada. Estava lรก — como os mรณveis antigos, como a poeira no alto do armรกrio. A existรชncia dela era um ruรญdo abafado. Chorava? Sim. Mas sem som. Sorria? Raramente. E ninguรฉm via. Na escola, virou silรชncio ambulante. Os colegas riam da sua organizaรงรฃo exagerada, da forma como se escondia em si mesma. Talvez pensassem que era esnobe. Nรฃo era. Era sรณ medo — um medo quieto, que aprendeu a vestir como armadura. Cresceu. Ou talvez apenas envelheceu com o passar dos dias. Trabalhava. Voltava pra casa. Dormia. Re...